A Enfermagem de Saúde Mental foca-se na promoção da saúde, na prevenção, no diagnóstico e na intervenção perante respostas humanas desadaptadas aos processos de transição, geradores de sofrimento, alteração ou doença mental (Ordem dos Enfermeiros, 2010, pp. 1). A demência representa uma dessas respostas, na qual o Enfermeiro especialista pode desempenhar um papel crucial.
Na atualidade, verifica-se um processo de envelhecimento demográfico com o aumento da esperança de vida e do número de idosos, aumentam também as patologias e síndromes associadas ao envelhecimento, como o caso das demências (Ordem dos Enfermeiros, 2015). Em 2004 as demências constituíram a 6ª principal causa de morte nos países mais desenvolvidos e a demência de Alzheimer foi considerada a 5ª causa de morte mais frequente em 2006.
Contudo, talvez mais relevante do que a mortalidade atribuída à demência seja a morbilidade que lhe está associada. Neste sentido, estima-se que a demência contribua com mais de 11,9% dos anos vividos com incapacidade nas pessoas acima dos 60 anos, valor superior ao calculado para os acidentes vasculares cerebrais (9,5%), para as doenças cardiovasculares (5,0%) ou para todas as formas de cancro (2,4%).
As estimativas de população residente em Portugal dos últimos anos confirmam o duplo envelhecimento demográfico: aumento do número de idosos, diminuição do número de jovens e de pessoas em idade ativa. Em 2001, o índice de envelhecimento da população era de 102, o que significa que por cada 100 jovens existiam 102 idosos. Apenas dez anos depois, em 2011 o índice de envelhecimento da população passou para 128 e em 2013 verificou-se novo aumento para os 136.
Estima-se que a população idosa em Portugal continuará a aumentar nas próximas décadas, atingindo entre 36% a 43% da população em 2060, com um respetivo índice de envelhecimento na ordem dos 287 a 464 idosos por cada 100 jovens. Em 2018, a percentagem de casos de demência em Portugal era de 1,8% - cerca de 193.516 casos. As projeções da Alzheimer Europe dizem que em 2025 será de 2,29% e de 3,82% em 2050. Esta subida ultrapassa a tendência europeia e deve-se, sobretudo, ao “envelhecimento acentuado da população portuguesa”.
Em Portugal, não existindo até à data um estudo epidemiológico que retrate a real situação do problema, podemos ter como referência os dados da Alzheimer Europe que apontam para mais de 193 mil e 500 pessoas com demência (Alzheimer Europe, 2019). Esta elevada morbilidade, associada à cronicidade das demências, acarreta custos diretos e indiretos muito elevados, refletidos numa enorme sobrecarga para os sistemas nacionais de saúde, e também com um grande impacto na economia das famílias. Tendo em consideração isto, a demência assume-se como um problema emergente de Saúde Pública.
No momento atual o tratamento da demência está limitado à fase sintomática da doença. Atendendo à complexidade do percurso do adoecer e de todo o processo que envolve as pessoas mais velhas com perturbações neurocognitivas, a intervenção neste grupo etário deverá ser multifacetada, integrando os vários quadros de referência profissional. Os Enfermeiros inserem-se num contexto de atuação multidisciplinar e, no âmbito das suas intervenções autónomas e interdependentes, projetam a sua atividade com o objetivo primordial de contribuir para a promoção da saúde e da autonomia, a adaptação aos défices e apoio à família.