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Publicado a 04/01/2014

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Cuidados Paliativos - À Conversa com Catarina Simões

Catarina Simões, Enfermeira há vários anos, com especialização em Enfermagem Comunitária, tem exercido a sua atividade clínica no IPO do Porto sempre na área dos Cuidados Paliativos, inicialmente no serviço de internamento, passando pela equipa intrahospitalar e, atualmente, na consulta externa de Cuidados Paliativos. Numa curta entrevista à Bwizer aborda toda a pertinência à volta desta temática.

 

 

1. Se tivesse que definir cuidados paliativos em palavras-chave, quais escolheria para melhor os caracterizar?

Comunicação, equipa, controlo de sintomas e apoio à família. São estas as áreas essenciais em cuidados paliativos.

 

2. De um modo geral, qual a importância dos cuidados paliativos?

A abordagem dos cuidados paliativos tem como objetivo prevenir e aliviar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida em pessoas com doença progressiva e incurável. Trata-se de uma resposta técnica, científica e humana, que inclui a identificação precoce e satisfação de necessidades físicas, psicológicas, sociais e espirituais. Envolve a família e prolonga-se no luto. Os cuidados paliativos são essenciais a qualquer sistema nacional de saúde para garantir o cuidado global à pessoa com doença crónica, evolutiva, que limita a vida, independentemente da sua doença ou idade. Uma abordagem precoce dos cuidados paliativos tem efeito preventivo uma vez que antecipa, previne ou alivia o sofrimento físico, psicológico e espiritual.

 

3. Que dificuldades/barreiras atuais existem ao desenvolvimento da área de cuidados paliativos em Portugal comparativamente com outros países (dentro e fora da UE)?

Neste momento, a principal dificuldade é a dificuldade no acesso, muitas vezes dependente de questões ligadas à localização geográfica, por exemplo, já que não existe equidade na distribuição dos recursos, que são claramente escassos. No que se refere ao desenvolvimento desta área no nosso país, não pode dizer-se que existe um grande atraso relativamente a outros países da UE, no entanto, o insuficiente número de equipas de cuidados paliativos que assegurem apoio na comunidade distancia-nos de países, como o Reino Unido, onde existe uma cobertura eficaz a este nível.

 

4. Qual a importância de uma Rede Nacional de Cuidados Paliativos (RNCP) eficaz?

A implementação de uma RNCP eficaz permite responder às necessidades específicas de forma equitativa, facilitando o acesso e garantindo a distribuição dos recursos humanos e físicos, em valência de internamento ou ambulatório, sob a forma de equipas de suporte na comunidade

 

5. No seu dia-a-dia, é fácil a aceitação de iniciar cuidados paliativos por doente e família em detrimento de planos de obstinação terapêutica?

A integração da abordagem dos cuidados paliativos no plano terapêutico do doente é facilitada numa situação em que o doente esteja informado sobre a situação de doença actual e conheça os objetivos do acompanhamento por esta área dos cuidados de saúde. Num cenário ideal, em que não existisse carência de recursos em cuidados paliativos, esta abordagem teria lugar numa fase anterior, já que cuidados paliativos e instituição de tratamentos com o objectivo de controlar a doença não se excluem mutuamente. No início da trajectória da doença o foco da intervenção é o controlo da doença e a abordagem dos cuidados paliativos pode contribuir para optimizar a qualidade de vida. Numa fase mais avançada, a abordagem dos cuidados paliativos assume a liderança e as terapêuticas dirigidas à doença tornam-se menos efectivos e apropriados. Limitar a abordagem dos cuidados paliativos apenas às últimas semanas ou dias de vida priva o doente e família de cuidados que podem melhorar a qualidade de vida e aliviar o sofrimento.

 

6. E por parte de profissionais de saúde sem formação em cuidados paliativos? Que obstáculos/dificuldades identifica?

A dificuldade pode ser exatamente essa: a falta de formação, que tem implicações várias, a começar pelo atraso na identificação do momento para referenciar o doente para uma equipa de cuidados paliativos diferenciada, por exemplo. A dificuldade em trabalhar em equipa, a falta de formação que permita dar uma resposta ajustada às necessidades destes doentes e o deficiente apoio por parte de equipas de cuidados paliativos especializadas que funcionem como consultoras funcionam como obstáculos importantes.

 

7. Além da formação em Cuidados Paliativos, que dá uma excelente base técnica/teórica sobre o tema, que base aconselharia para uma melhor gestão de emoções por parte dos profissionais que contactam com esta tipologia de doentes diariamente?

O burnout é frequente nas profissões de ajuda, no entanto, os profissionais que trabalham em cuidados paliativos apresentam índices de burnout inferiores, ao contrário do que poderia ser esperado. A valorização do trabalho em equipa parece ser protectora, bem como estratégias de autocuidado, desenvolvidas individualmente.

 

8. Que mais-valias profissionais ou de empregabilidade podem esperar os formandos ao apostar nesta área de formação?

Boas competências de comunicação e compaixão são importantes mas não são suficientes, é necessário conhecimento e competências clínicas específicas, adquiridas através da formação, básica ou avançada, dependendo do nível de intervenção a que nos referimos. Todos os profissionais de saúde devem estar capacitados para prestar acções paliativas, nomeadamente os que exercem funções em serviços onde existe uma elevada prevalência de doentes com idade avançada, ou com prognóstico limitado, em internamento ou na comunidade.

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