A adolescência, de acordo com a teoria psicossocial do desenvolvimento de Erikson (1976), é um período repleto de desafios, caracterizando-se pela necessidade de reorganização e de resolução de tarefas desenvolvimentais, salientando-se a exploração e a construção da identidade psicossocial.
A Maria, adolescente de 16 anos e mãe da Ana, neonato de 15 dias internada na unidade de Pediatria, tem de lidar concomitantemente com as tarefas desenvolvimentais da adolescência e com situações indutoras de stress associadas à gravidez e à maternidade. Além do mais, isto ocorre num período em que os seus recursos pessoais para lidar com o stress estão ainda em desenvolvimento (Passino et al., 1993), pelo que o confronto e a resolução deste conjunto antagónico de tarefas levam a dificuldades acrescidas (Pedrosa, 2009). A experiência da parentalidade na adolescência tem sido associada a diversos resultados adversos, nomeadamente a nível emocional (Black et al., 2002), pelo que se considera esta problemática de grande relevância para a Enfermagem, pois o foco principal da disciplina centra-se na facilitação dos processos de transição, ambicionando o bem-estar (Meleis, 2010).
A Ana resultou de uma gravidez não planeada, mas assimilada pela Maria, “é minha filha, aconteça o que acontecer não lhe irá faltar nada” (Sic.). Percebem-se sentimentos de felicidade em relação à maternidade apesar do arrependimento pela sua precocidade, não apenas de si mas também do namorado e pai da Ana, o João, assim como da família de origem. A relação interpessoal com o João desempenha um papel importante no seu equilíbrio emocional. Neste caso não se considera que seja um fator de proteção para a adaptação à parentalidade pois, apesar de a Maria referir que continuam romanticamente envolvidos, tanto o João como a sua família não oferecem o apoio económico esperado e desejado. Tornar-se mãe implicou mudanças significativas nas suas atividades e estilo de vida. O envolvimento nas tarefas parentais traduziu-se em menor disponibilidade para a relação com o grupo de pares e na suspensão da matrícula no 12º ano do Curso Profissional de Gestão Ambiental, o que acarreta alguma insatisfação.
A Maria coabita com a família de origem, demonstrando uma dependência afetiva e económica dos mesmos. Refere que mantêm uma dinâmica relacional de qualidade, encontrando-se na fase de adaptação à antecipação da redefinição das tarefas e dos papéis familiares a que a maternidade obrigou. Estudos evidenciam que continuar a residir com a mãe promove a adaptação da adolescente à maternidade (Oberlander, Shebl, Magder, & Black, 2009) e que cuidar do filho com o apoio da mãe, que partilha e modela os cuidados à criança, aumenta a confiança da jovem nas suas competências maternas (Carvalho, 2007), diminui o risco de perturbação emocional e leva a práticas educativas parentais mais eficazes (Shanok & Miller, 2007). No entanto, embora o apoio da avó materna seja benéfico para o percurso desenvolvimental, no geral, é importante que a Maria permaneça envolvida nas tarefas parentais e nas responsabilidades implicadas pelos cuidados à Ana, não delegando esses cuidados à avó. Em contexto hospitalar, aquando a prestação de cuidados à Ana, a Maria demonstrou uma relação de submissão e dependência com os profissionais, sentindo-se avaliada pelos mesmos. Denotava-se a pressão sentida para obedecer às expectativas da família, amigos e sociedade quanto aos comportamentos parentais adequados e inadequados.
Sendo a adaptação à parentalidade “a capacidade para superar as tarefas desenvolvimentais, fundindo-as na capacidade de cuidar e educar uma criança, contribuindo para o seu desenvolvimento harmonioso e também para o próprio desenvolvimento pessoal” (Canavarro, 2001, p. 45), encontramo-nos perante o Diagnóstico de Enfermagem Adaptação à Parentalidade Comprometida, da qual decorre a necessidade de Intervenções de Enfermagem que englobem os vários contextos de vida da Maria, dirigidas à minimização do impacto da adaptação e à promoção dos fatores de proteção e competências (Pedrosa, 2009) que podem oferecer tanto à Maria como à Ana, oportunidades de desenvolvimento e sucesso, como elogiar o apoio emocional e económico por parte da família de origem e os cuidados prestados à Ana; encorajar a harmonização entre a maternidade e a adolescência, de forma a ser possível executar ambos os papéis e incentivar o aconselhamento junto de profissionais de saúde, uma vez que o apoio formal dos serviços de saúde tem efeitos positivos no seu bem-estar (Shanok & Miller, 2007).
Reconhecendo que não existem medidas simples para um problema tão complexo e que envolve tantos fatores, conclui-se destacando a importância de uma abordagem complexa e abrangente da pessoa e da sua família, o que possibilita a identificação de necessidades e a adoção de cuidados individualizados e humanizados. Pretende-se que esta exploração fictícia, mas crítica e reflexiva permita alcançar uma visão livre de estereótipos e entender que a adaptação das adolescentes à gravidez e à maternidade não pode ser encarada como universalmente adversa, nem o seu funcionamento psicossocial como sempre desajustado, pois muitas jovens, as suas famílias e os seus filhos alcançam indicadores de boa adaptação e resultados desenvolvimentais favoráveis, principalmente se possuírem suporte emocional e instrumental adequados (Carvalho, 2007; Figueiredo, Pacheco, Costa, & Magarinho, 2006).
-----
Bibliografia
CV: Licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho.