Este artigo fez parte da 5ª edição da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.
A ferramenta Blood Flow Restriction é uma das mais recentes novidades na clínica de condições musculosqueléticas, tendo um estudo de Patterson e Brandner (1) revelado que inúmeros profissionais espalhados pelo mundo e das mais diversas áreas já referiam o seu uso. O que é e qual a validade dos pressupostos fisiológicos em que se baseia a sua crescente utilização?
O que é?
Blood Flow Restriction (BFR) é uma ferramenta utilizada para atrasar os decrementos físicos relacionados com a idade ou, como iremos abordar em maior detalhe, para promover a recuperação após lesão, assim como para melhorar a condição física do utilizador (2). Esta técnica utiliza uma “algema” colocada na região proximal do membro no qual se vai intervir com uma determinada pressão, de forma a restringir o fluxo sanguíneo na área(3).
São verificados ganhos ao nível do sistema circulatório, das estruturas musculares e das estruturas ósseas (4, 5), alguns destes semelhantes aos verificados em treinos com cargas altas. Isto deve-se a processos associados ao stress metabólico (3), que advêm da ausência de retorno venoso e da diminuição da afluência arterial ao membro sob o efeito da técnica(3).
Revela-se especialmente útil devido à menor necessidade de imposição de stress mecânico às articulações (6) e aos tecidos musculares, revelando-se uma alternativa para pessoas cuja patologia, disfunção ou simplesmente potencial ainda não o permite.
Para que serve?
A estratégia BFR pode ser utilizada em qualquer pessoa, sendo que esta é amplamente estudada em populações geriátricas (7) e indivíduos adultos, sejam eles atletas ou não (8).
Num estudo de 2011, Kubota et al. exploraram de que forma o recurso ao BFR prevenia a diminuição de força decorrente da atrofia de musculatura associada à imobilização de segmentos(9), e observaram que esta era significativamente menor nos indivíduos do grupo experimental (nesta experiência, o uso de BFR não estava sequer associado a um programa de exercício).
Takarada et al. estudaram o efeito da BFR associada ao exercício na produção de força e na área de secção transversa. Neste estudo, três grupos de atletas treinados e sem lesão foram submetidos a um programa de exercícios vs inatividade, sendo que nos que realizavam exercício, um dos grupos o fazia associado à utilização de BFR e o outro não(10).
Tendo em conta a significância estatística dos resultados encontrados ao nível da produção de força (e na respetiva percentagem de torque máximo utilizado ao longo da tarefa), os investigadores procuraram saber se esse aumento se deveria a fatores neurais ou estruturais. Para isso procuraram saber como se refletiam, na imagiologia, estes resultados, sendo que o aumento da área de secção transversa elucida acerca do envolvimento de fatores maioritariamente relacionados com a hipertrofia(10).
É então possível observar que há benefícios claros decorrentes da utilização desta tecnologia… Mas será perigosa?
CV: João Noura é Fisioterapeuta, pós-graduado em Fisioterapia Desportiva. Atualmente é o Coordenador da Unidade de Fisioterapia Desportiva e Performance na CMM/Peak e é Docente Assistente na ESS-Porto na Unidade Curricular de Ciências Morfológicas.