Este artigo fez parte da 5ª edição da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.
Maria João, se tivesse que escolher 3 palavras para se descrever, quais seriam e porquê?
Resiliência, positivismo e curiosidade. O que sou como profissional e pessoa é fruto de uma grande resiliência e capacidade de enfrentar os constantes desafios da vida, aceitando as minhas forças e vulnerabilidades. Perdemos tempo e energia interior quando nos lamentamos. Há sempre algo que podemos aprender de forma construtiva, mesmo nos momentos mais “negros” da nossa existência. Tenho uma curiosidade inata pelo ser humano e pelas culturas dos diferentes povos. Considero que quem não é curioso já “morreu”.
É uma fisioterapeuta diferente da maioria, tanto pelo percurso e área de trabalho, como pelas coisas que faz. Como entrou na fisioterapia e que momentos destaca na sua carreira?
Por não ter média para entrar na Faculdade de Medicina concorri ao curso de Fisioterapia. Procurei encontrar uma profissão na área da Saúde com contacto directo com o corpo humano e em que as relações interpessoais fossem valorizadas. Quando entrei em Alcoitão, em 1987, desconhecia a revolução da profissão e quanto era importante que cada Fisioterapeuta contribuísse para um trabalho de qualidade e dignificação da carreira (continuamos ainda hoje com esta premissa). Relativamente aos 3 principais momentos na minha carreira saliento:
1. Início de carreira, em 1990, na Função Pública, a trabalhar num Hospital Central (Hospital de Egas Moniz de Lisboa) num serviço de Fisioterapia inovador, multidisciplinar e com o cuidado na formação contínua da equipa. Contudo, ao longo dos 10 anos de trabalho como funcionária pública, senti que não era o que queria para o meu futuro profissional.
2. Arriscar ao criar o “Centro Olá Mamã - Centro de Preparação e Educação para o Nascimento” em Lisboa, em 2002, onde desenvolvo toda a prática clínica na área da Saúde Materno-Infantil. Este é um espaço de aprendizagens profissionais enquadradas na minha área de eleição na Fisioterapia. Aprendo diariamente com as famílias e os desafios que o processo de parentalidade nos coloca. Trabalho e cruzo saberes clínicos com diferentes profissionais a nível nacional e internacional.
3.Todas as experiências formativas nacionais e internacionais que tive oportunidade de desenvolver. Toda a carreira de formadora na área da Saúde Materno-Infantil que começou na APF e que, desde 2000, “pasito a pasito” foi transformada numa atividade de formadora freelancer, em Portugal, e no estrangeiro - já trabalhei como formdora em 13 países, diferentes continentes, o que me trouxe a possibilidade de vivenciar diferentes culturas, suas práticas e saberes tão distintos. Aprender a respeitar a diferença sem julgamentos de valores “à portuga”.
Este percurso foi desenhado de forma meticulosa ou “foi surgindo”?
Não acredito no simples acaso ou no tecnicismo puro. Acredito sim, no trabalho e na paixão de nos movermos para construirmos os nossos sonhos, com suor e dedicação. Este percurso profissional surgiu de diversas experiências de vida profissional e humana, que contribuíram para a criação de novas oportunidades de realização. Com efeito, quando surge uma oportunidade que “mexe connosco”, cabe às nossas mãos e coração aceitar o desafio sem saber, na maioria das vezes, qual a “rede” ou desfecho, mas arriscando porque se acredita que corresponde a nossa “impressão digital“.
A Maria João Alvito foi a idealizadora e criadora do centro “Olá Mamã”, um conceito bastante diferenciado e raro em Portugal – como tudo começou?
Como um “quarto filho”, sonhado, buscado, construído. Após ter trabalhado durante 10 anos na função pública, mais especificamente na área da Saúde da Mulher, após ter andando com a “trouxa às costas” em várias clínicas privadas, depois de ter coordenado uma equipa multidisciplinar num projecto de um empresário e médico, senti que após todas estas vivências seria minha vez, em 2002! E assim criei um projeto de raiz, com cariz privado para poder “abrir as asas”, ser “dona“ do meu tempo e poder oferecer serviços de Saúde Materno-Infantil, com uma filosofia baseada num Modelo Relacional onde a Família é o centro da intervenção. E hoje, todos os profissionais de saúde da equipa “Olá Mamã” trabalham segundo este valioso princípio.
Atualmente, o centro Olá Mamã, para além de prestar serviços na área pré e pós-parto, transformou-se, em 2016, também num centro de formação profissional creditado pela DGERT. Um passo em frente, de acordo com o nosso trabalho formativo, estabelecendo parcerias formativas com diferentes entidades a nível nacional e internacional.
Os seus clientes são, tipicamente, os pais. É difícil lidar com os pais? Que dicas deixa?
Os clientes pais/ famílias são a nossa “matéria prima” para crescermos e maturarmos como profissionais nesta área da Saúde Primária e Educação Parental. Escutar verdadeiramente as necessidades parentais (e não projetar o outro com o que sabemos sobre o assunto x), descomplicar, com os pais, o cenário clínico. Sermos muito práticos na seleção conjunta de estratégias de resolução. Cada família é única, não há fotocópia de bebés e os contextos específicos da família moldam as escolhas de saúde.
Seja humilde e inspire os pais a descobrir o seu filho/a com diferentes ferramentas de saúde. Não tenha medo de errar, pois errar faz parte do percurso de desenvolvimento e maturidade, quer para o profissional, quer para cada mãe, pai e bebé.
Como profissionais de saúde temos que ter ética e nunca projetar os nossos valores/ vivências parentais, como a “escolha certa”. Não podemos ser extremistas, nem fundamentalistas!
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Este artigo fez parte da 5ª edição da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.
CV: Maria João Alvito é licenciada em Fisioterapia e até ao momento realizou mais de 200 cursos para profissionais de saúde e educação em Portugal e no estrangeiro. De salientar que tem desenvolvido formação na área da Saúde da Mulher e Educação Parental em diversos países.
Fonte: Número 5 da Bwizer Magazine