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Publicado a 30/12/2019

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À conversa com... José Carlos Reis (Bwizer Magazine)

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Este artigo fez parte do Número 9 da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.

 

Estivemos à conversa com José Carlos Reis, presidente da AGAP | Portugal Activo, que nos presenteou com uma entrevista onde falou sobre o papel do profissional do exercício na saúde, assim como das tendências neste setor de atividade.

 

Apresente-se de forma breve

Tenho 56 anos, vivo em Lisboa, sou casado e pai de 2 raparigas e 1 rapaz. Ao longo de toda a minha vida tenho sido um grande entusiasta do desporto e exercício físico. Licenciei-me em Educação Física e apaixonei-me pela Gestão Desportiva. Fui eleito, em janeiro de 2018, Presidente da AGAP|Portugal Activo e exerço a função de Diretor Geral do Ginásio Clube Português (GCP).

 

Quais os momentos mais marcantes da sua carreira?

A minha carreira profissional tem sido muito diversificada. Fui Professor de Educação Física na escola, Treinador de Ginástica, proprietário de um Ginásio, trabalhei na Autarquia de Lisboa, estive na Coordenação Regional do Desporto Escolar, fui proprietário de uma empresa de Marketing, Comunicação e Realização de Eventos Desportivos, trabalho no GCP e, desde janeiro de 2018, sou também Presidente da AGAP|Portugal Activo. E a verdade é que não consigo destacar nenhuma destas funções, pois cada uma delas foi uma “pedra” na construção da minha carreira.

 

Ao longo da sua carreira já teve oportunidade de fazer várias coisas. De que mais gostou e em que “papel” mais cresceu.

Como respondi na questão anterior, sinto que todas as etapas foram importantes na construção da minha personalidade e carreira profissional. Talvez o percurso no GCP tenha um maior relevo, porque iniciou há mais de 20 anos e o ponto de partida foi muito mau - hoje é um clube em crescimento, com grande vitalidade e reconhecido por todos.

 

Como surgiu a sua ligação à AGAP? Como é ser Presidente da Direção desta instituição?

Eu representava na AGAP o único clube que não era do sector privado. Foi na altura uma exceção que foi dada ao GCP pela sua história no desporto e atividade física nacional. Sempre fui muito bem acolhido na Associação pelos vários órgãos sociais da AGAP ao longo dos anos. Quando foram alterados os estatutos que permitiram a entrada dos clubes do sector não lucrativo, houve um convite feito por vários elementos que compunham os órgãos sociais em 2017, para eu ser o Presidente. Ser Presidente desta Associação, além de ser um orgulho imenso pelos valores e pessoas que a representam, é uma responsabilidade enorme. Temos que fazer tudo o que está ao nosso alcance para ter um país mais saudável, mais ativo e mais feliz.

 

Por que razão se criou a assinatura “Portugal Activo”?

Porque quisemos mudar o foco da Associação. Deixar de ser uma Associação que era vista, maioritariamente, como defensora dos interesses dos “donos dos ginásios” e passar a ser vista por todos como a principal defensora da promoção da saúde e atividade de todos os Portugueses, principalmente dos inativos.

 

Qual a grande missão da AGAP, na sua opinião?

A grande missão é aumentar a taxa de penetração dos clubes de fitness que hoje ronda os 6%. De facto, pretendemos, até 2021, atingir os 10%, ou seja, 1 milhão de Portugueses a fazer exercício físico nos nossos clubes, aproximando-nos da média europeia.

 

Consegue fazer a fotografia da sociedade portuguesa no que diz respeito à prática de atividade física?

É uma população muito inativa, sem cultura desportiva. No último Euro-Barómetro, Portugal, Bulgária e Grécia, estão na cauda da EU com uma taxa de inatividade de cerca de 68%.

 

O que pode e deve ser feito para mudar este cenário?

Existem 2 ações fundamentais para a mudança. Em primeiro lugar, a realização de campanhas de sensibilização e promoção do exercício físico para a saúde e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Em segundo lugar, a implementação de políticas fiscais impulsionadoras do aumento da prática de exercício físico, como sejam:

a) Benefícios fiscais em sede de IRS nas despesas com a saúde, para os praticantes de fitness, podendo no final do ano abater uma parcela do custo da sua prática, como já acontece na Alemanha. Esta medida seria importantíssima porque haveria, por parte do Governo, um reconhecimento dos benefícios do exercício físico na saúde, levando a que as próprias pessoas interiorizassem esta necessidade com maior facilidade;

b) Benefícios em sede de IRC para as empresas que, ou subsidiam o exercício físico dos seus colaboradores, ou têm ginásios próprios para que os seus colaboradores possam treinar nas instalações da empresa. Esta situação também já se verifica na Alemanha;

c) Redução da taxa de Iva de 23% para 0%. Com efeito, se este é um serviço que contribui para a prevenção de doenças e é um coadjuvante no tratamento das mesmas, ou seja, é um promotor de saúde, não faz sentido que não seja equiparado às restantes atividades ligadas à saúde, como a medicina, fisioterapia e nutrição, que possuem Iva de 0%. Isto não iria implicar uma redução dos custos de prática nos clubes, mas conduziria a uma maior rentabilidade do sector, possibilitando um maior investimento em novos clubes de fitness. Isto é muito importante, porque sabendo nós da relutância dos Portugueses para a mudança, a mesma só se verifica, se cada um de nós tiver à sua disposição um clube na esquina da sua rua ou do seu emprego. Sempre que abre um clube novo, sabemos que cerca de 90% dos inscritos, são pessoas que naquele momento, não estavam a praticar exercício em nenhum clube.

 

Como podem os profissionais chegar à comunidade médica e mostrar os benefícios do exercício que, em algumas situações, pode evitar ou diminuir o uso de fármacos, assim como diminuir os custos para o SNS, nomeadamente com patologias crónicas?

Este é um trabalho de médio e longo prazo, em que os Profissionais de Exercício Físico devem apostar, cada vez mais, em formação especializada e depois, através da obtenção de resultados, darem a conhecer o seu trabalho à classe médica. Outro aspeto fundamental é o estabelecimento de qualificações específicas de acordo com a formação de cada um. Estamos a trabalhar em conjunto com a APTEF (Associação Portuguesa de Técnicos de Exercício Físico) e APFE (Associação Portuguesa de Fisiologistas do Exercício), para estabelecer um plano de qualificações dos Profissionais de Exercício Físico que faça esta destrinça.

 

Qual o estado da indústria do fitness, em Portugal? E como pensa que serão os próximos anos?

A indústria do fitness está com grande vitalidade, abrindo-se novos clubes quase diariamente. Nos próximos anos esta situação irá continuar, porque a nossa taxa de penetração é tão baixa que existe muito caminho para se fazer. Existem inclusive cadeias internacionais com interesse em investir no nosso país.

 

A realidade portuguesa é diferente da internacional?

Penso que não, o fitness continua em grande crescimento em todo o mundo. Nós é que partimos um pouco atrás, quando comparados com os nossos colegas da EU.

 

Como acha que os ginásios podem aumentar a sua taxa de penetração?

Penso que o mais importante nos clubes é tratar da taxa de retenção, porque pessoas novas a fazer exercício físico vai ser uma tendência natural, tendo em conta o relevo e a consciência do papel do exercício físico na saúde e qualidade de vida das pessoas.

 

Hoje, quais as principais tendências no fitness?

Em Portugal, será o crescimento do low cost e dos estúdios de treino personalizado (PT). Acredito que brevemente teremos presentes as verdadeiras cadeias de low-cost, na faixa dos 9 a 10€/mês. Os estúdios de PT também continuarão a crescer com maior intensidade, porque assentam numa lógica de autoemprego e de serviço com qualidade.

 

Que grandes mudanças estamos a assistir no mundo do fitness? Qual o papel das tecnologias?

As mudanças tecnológicas têm uma grande importância principalmente para a agregação do utilizador a um determinado clube. A conectividade e a ligação ao grupo, que as tecnologias permitem, são também uma força importante para o negócio do fitness.

 

Como vê a oferta tão vasta em Portugal, desde os ginásios low cost, aos premium, passando pelos estúdios body and mind e as boutiques de PT?

É fundamental para o sector e para o crescimento do fitness que exista uma oferta alargada de serviços, com várias tipologias e abordagens diversificadas. Há mercado para todos, pois todos somos diferentes e o que se adequa a mim, pode não corresponder às necessidades dos outros.

 

Hoje, o que distingue um bom ginásio de um não tão bom?

Penso que as diferenças estão no serviço que é entregue aos clientes. Hoje em dia, a grande maioria apresenta boas instalações e equipamentos modernos. O trabalho que os profissionais realizam e os resultados alcançados pelos clientes, são os determinantes da qualidade dos clubes.

 

Qual a importância de um trabalho multidisciplinar?

O trabalho multidisciplinar é hoje em dia uma condição indispensável para o sucesso. Veja-se por exemplo o papel fundamental dos Nutricionistas nos clubes, pois todos sabemos que para a perda de peso é imprescindível a prática de exercício físico associada a uma alimentação equilibrada e saudável.

 

Qual a importância da formação dos Profissionais de Exercício? Considera que a licenciatura é suficiente, ou há a necessidade de conhecimento mais especializado?

A Formação sistemática dos profissionais é hoje um imperativo de qualquer área, porque o conhecimento desenvolve-se a uma velocidade estonteante. Quem parar no tempo e não se atualizar, vai perder a carruagem do sucesso. Após a licenciatura, todos deverão fazer um mestrado e após isso complementar a sua formação com formações específicas.

 

O que tem a dizer dos CET (Curso de Especialização Tecnológica) de TEEF (Técnico Especialista em Exercício Físico)?

Os CET são formações muito importantes para o nosso sector porque dão uma habilitação básica para o exercício da função de Técnico de Exercício Físico (TEF), que sendo acompanhados por um Fisiologista do Exercício, poderão realizar um trabalho de qualidade com a população saudável (sem nenhuma contraindicação ou risco para a prática de exercício físico).

 

Qual o papel dos Fisiologistas do Exercício?

Os Fisiologistas do Exercício, além de fazerem este acompanhamento e monitorização dos TEEF’s, têm um papel fundamental na oferta de um serviço de qualidade e no acompanhamento das populações especiais, de doentes e das pessoas com fatores de risco para a prática de exercício físico. A sua formação especializada permitirá ainda aumentar a credibilidade do nosso sector junto da classe médica.

 

O que não pode mesmo deixar de fazer antes de terminar o mandato?

Continuar a influenciar todos, e mais especificamente os Portugueses inativos, para que consigamos ter, em 2021, um milhão de praticantes de fitness nos nossos clubes.

 

Quais os seus projetos para o futuro?

Gostava muito de ter uma experiência profissional internacional na área do fitness, mais propriamente na Europa.

 

Este artigo fez parte do Número 9 da Bwizer Magazine – pode vê-la na íntegra aqui.

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