A história que se segue é sobre craques: craques da bola como Pepe ou El Shaarawy que se colocam nas mãos da equipa de craques médicos da clínica portuguesa Espregueira Mendes. Juntos alcançam o estrelato: no desporto e na medicina mundial. Leia aqui o artigo publicado no Jornal JN em conversa com o Dr. João Espregueira Mendes.
A porta do ar condicionado. À primeira vista não é um elemento relevante para contar a história da clínica de medicina e traumatologia desportiva mais bem sucedida da Península Ibérica e uma das mais reconhecidas do mundo. Mas não se pode desprezar o papel da porta do ar condicionado nesta história. É por ela que futebolistas recém contratados, em plena época de transferências, entram na Clínica Espregueira Mendes, vulgo Clínica do Dragão, para fazerem a avaliação médica. Foi também por ela ou outra semelhante que, no maior sigilo no Verão passado, entraram dois futebolistas internacionais vindos diretamente do Brasil, durante o Campeonato do Mundo, para serem operados.
A discrição é fundamental quando estão em jogo a saúde e as aptidões físicas de atletas de alta competição e João Espregueira Mendes sabe isso perfeitamente. Vem de uma família que desde 1926 vê nascer cirurgiões ortopédicos. O pai operou "todos os grandes" do futebol em Portugal. O mais mediático foi Chalana, na altura a jogar no Bordéus. Pela sala de operações do filho já passaram jogadores do Milan FC ou do Paris Saint-Germain, atletas de equitação, ciclismo, judo e ainda um dos melhores jogadores da seleção de críquete da Índia (modalidade de destaque na Ásia). "Custa-me dizer que a época do meu pai foi menor que a de hoje". Mas a verdade é que a última década é uma era dourada para o cirurgião.
Em 2006 nasce a Clínica do Dragão (na altura com o nome Saúde Atlântica, não fossem os benfiquistas e os sportinguistas encarar mal o nome, mas rapidamente viram "que não havia que lutar contra ele"), com um objetivo claro: criar uma clínica de medicina e traumatologia desportiva de renome. "Para isso havia uma fórmula indiscutível: atletas de alta competição. Se eles cá estiverem, todos os outros doentes vêm a seguir". E vieram. A clínica tem em média 270 consultas por dia. "Os colegas que nos visitam ficam sempre espantados, porque os atletas de alta competição são só 3% dos nossos doentes". Não há especialidade médica que não se encontre na Clínica do Dragão, nem acordo de saúde que não exista, mas todas têm uma ligação especial ao desporto. "Na área da cardiologia, temos o professor João Freitas que é o maior especialista na área da morte súbita no desporto. E na oftalmologia, o que interessa mais no âmbito do desporto? Daltonismo e trauma ocular. Até a ginecologia é vista na sua relação com a atividade desportiva".
Trabalhar para a excelência
Na clínica do desportista, João Espregueira Mendes é um treinador que se rodeia dos melhores jogadores do mundo da traumalogia desportiva. O cirurgião estabeleceu uma parceria com Niek van Dijk, o cirurgião holandês que operou Cristiano Ronaldo, Van Persie, Van Nistelrooy ou Bill Clinton e com quem trabalhou durante dez anos na Sociedade Europeia para a Traumatologia Desportiva e Artroscopia. É ao Porto que vem realizar muitas das suas cirurgias.
A clínica tem certificação ESSKA e ISAKOS (as organizações europeia e internacional de traumatologia do desporto e cirurgia do joelho) e é um centro médico de excelência da FIFA desde 2013. No mundo existem apenas 40 clínicas com esta distinção. "Confesso que foi o único projeto que eu tive na minha vida que não acreditava que fosse possível". Mas um ano de candidatura e 600 páginas depois, a acreditação FIFA chegava pela primeira vez à Península Ibérica. E com ela, mais prestígio internacional.
"Recebemos fellows (colegas) de todo mundo, para a semana chega um indiano". Vêm para aprender. Em parceria com a Universidade do Porto, desenvolveram pós-graduções de reabilitação e medicina desportiva, "um dos melhores dos PALOP". Ao Porto e a Braga (também têm uma parceria com a Universidade do Minho) chegam formandos do Brasil, Angola, Moçambique. "E naturalmente são nossos embaixadores quando regressam. Somos muito aguerridos na nossa hospitalidade". Para quem não pode viajar até ao Porto, criou o primeiro curso de traumatologia desportiva 100% online. Seis meses de formação com milhares de alunos. "Nos últimos cinco anos publicámos mais trabalhos científicos do que em toda a História portuguesa do nosso ramo".
Português por contingência
Nacionalidade? Portuense. Convém não confundir portuense com portista, embora o seja e a clínica esteja localizada dentro do estádio do Dragão (a única no mundo que segue esta fórmula). "Na altura criticaram-nos, mas o Lyon e o Tottenham vieram cá para aprender e replicar o modelo". Espregueira Mendes é sobretudo um apaixonado pela cidade invicta, pela cultura e pela paisagem da cidade nortenha. "Sou português por contingência". E quer pôr o Porto no mapa da medicina internacional. "A nossa bandeira mais visível da atualidade é o surgical tourism (turismo cirúrgico)". O conceito, desconhecido para a maioria das pessoas, refere-se a fazer férias num sítio agradável e aproveitar a estadia para ser operado lá. Por estranho que possa parecer, é um negócio florescente na Costa Rica ou na Tailândia. "Eu acho esse termo péssimo, mas acredito na cirurgia deslocalizada". A Índia ajuda-nos a perceber o que isso é. "Quantos americanos não apanham o avião para Bombaim, seguem para um hospital no meio do nada, são operados e regressam de seguida aos Estados Unidos?" Milhares, na verdade, porque qualquer cirurgia é mais barata na Índia e, condições à parte, os médicos indianos têm normalmente formação em Inglaterra e na América.
A Clínica do Dragão quer seguir esta fórmula, mas vendendo excelência de serviço em vez de preço (embora seja muito competitivo internacionalmente). A localização da cidade (a meio da Ásia e da América) e o reconhecimento do Porto como melhor destino turístico em 2013 e 2014 ajudam. Um estrangeiro que cá venha ser operado tem direito a transporte personalizado, visitas guiadas, jantares nos melhores restaurantes. "Se cá estão, porque não aproveitar para conhecer melhor o local?". Esta é uma indústria que movimenta mais de 13 mil milhões de euros em todo o mundo.
E depois de atrair estrangeiros para o país, vai levar o know-how da Escola do Porto ao Médio Oriente, com o objetivo de criar três Centros Médicos de Excelência FIFA no reino do petróleo. Omã, Dubai e Riade são os lugares escolhidos, onde vão ocupar 2000m2 de hospitais locais. "Temos uma ligação forte com o Médio Oriente. O meu especialista em medicina desportiva é diretor clínico Al Ahli (clube de futebol do Dubai)".
Angola é "uma eterna hipótese" que poderá a vir concretizar-se em breve e em Londres vão integrar uma clínica multicultural. Mas o primeiro pensamento está sempre na cidade que o viu crescer. "Se eu conseguir que o Porto seja um destino de eleição nos próximos dez anos valeu a pena fazer este esforço".
Fonte: http://www.jn.pt/